segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

That's for you, Chess.

• Devaneando sobre a falta de Astarte •

“E, quando uma tristeza irresistível
Mais fundo cava-me um abismo n'alma,
Como a harpa de Davi teu riso santo
Meu acerbo sofrer já não acalma”

(Quinta estrofe do poema Horas de Saudade; Castro Alves)

Decididamente, não foi a saudade — porque a saudade era tão simples e humana que era insuficientemente triste para ele. Também não fora a tristeza, muito embora ela realmente incomodasse (como uma ferida aberta!) e, certamente não era a culpa que ainda depois de anos o atormentava — até porque a culpa seria até pequena se comparada a dor! Talvez fosse tudo se transformando em um sentimento triste e sofrido demais para se descrever em palavras (porque as palavras são uma invenção humana e seres frágeis e fúteis como gente mortal jamais entenderia como ele se sentia em relação à Astarte).

Talvez, porém, fossem as memórias. Memórias estas que se transformavam em fantasmas e o assombravam a ponto de Astharoth ter horror a encarar o crânio (pelos chifres de Satanás! O crânio!) de Astarte. Memórias que o faziam sentir saudades a ponto de quase — esta é a palavra chave — chorar. Memórias que o entristeciam. Memórias que faziam sentir-se culpado.

(Por não ter protegido Astarte.

Por não tê-la salvado.

Por não ter morrido com ela.)

Havia ainda a certeza de que nunca mais a veria. Havia ainda a certeza de que toda a culpa que sentia não a traria de volta. Havia ainda o crânio dela, guardado por Belzebu, esperando por um último sorriso que Ashtaroth nunca daria. Não que ele não quisesse uma despedida decente, mas não podia.

Porque nunca mais veria Astarte e seu ar natural para liderança. Nunca mais poderia admirar toda a sua força de espírito e aquele seu jeito de detestar ordens. Nunca mais haveria Astarte — e doía saber que tudo o que ainda a mantinha viva eram suas memórias. Saber que um último olhar seria para órbitas vazias e que uma última carícia (ou um beijo) jamais viria.

Malditas memórias! Malditas assombrações que mantinham Astarte viva; por mais que aquilo só abrisse mais feridas. Vinha, então, a dor de restar. De continuar (mesmo que morrendo por isso) vivendo quando tudo o que se resta de um amor é um crânio. E o crânio de Astarte não era ela. Ele não o amava — na verdade, sentia desprezo. Remorso. Raiva. De si mesmo, óbvio.

Então, vinha a dor — era a saudade. Era a tristeza. Era a culpa. Era o adeus.

Nota da Autora: Presente para a Chess; acabei tirando ela no Amigo Secreto do Nono Círculo do Inferno e fiquei envergonhada por não conhecê-la. Sinto muito por ter ficado tão pequena, sério! Mas, infelizmente, a criatividade estava falhando aqui. Espero que você goste, Chess! Não sou familiarizada com o par e tudo o mais, na verdade eu ralei muito para escrever isso e estou rezando para não ter ficado fora dos personagens, mas eles me chamaram a atenção e tudo o mais.... Enfim. Novamente, espero que gostem. SINTO MUITO PELA FIC SER MÍNIMA!